Agricultura

Na era da agricultura nuclear

Os trabalhos começaram há cerca de 30 anos, com experiências em grãos armazenados, como feijão, trigo e soja.

O objetivo inicial era apenas o controle de pragas. No correr dos anos, o estudo incorporou cebola, batata, alho, inhame, frutas e carnes, voltando a atenção para o retardamento do amadurecimento dos alimentos. ” Com a irradiação gama, os grãos podem ser guardados por três anos, não mais por um ano como acontece hoje”, comenta o coordenador do Laboratório de Irradiação da Alimentados do Cena, Júlio Marcos Melges Walder.

Na agricultura, o grande campo de atuação da irradiação está diretamente ligado como solução aos produtos serem exportados em função de o Japão e os Estados Unidos não possuírem algumas pragas existentes no Brasil. Atualmente, esse problema é resolvido com p processo de fumigação, um tratamento à base de Brometo de Metila, aplicado por meio de uma câmara de gás. Mesmo resolvendo o problema dos quarentenários e não causando riscos à saúde, a partir de 2001, os países de Primeiro Mundo estarão proibidos de comercializar artigos que tenham passado por este sistema Motivo: é um processo anti – ecológico, que destrói a camada de ozônio. Em 2006, proibição chega aos países emergentes. ” Assim, o único substituto a curto prazo para esse sistema é a irradiação. No Próximo milênio, a irrigação vai entrar com tudo”. Para se adequar às novas ordens econômicas e científicas, a legislação brasileira que rege sobre a irradiação de alimentos está passando por um aperfeiçoamento. É que sua normatização ocorreu em 1985 e, de lá para cá, a globalização alterou conceitos comerciais e a pesquisa fez surgir recomendações diferentes das que vigoravam naquela época. Para estimular a irradiação em escala comercial no Brasil, dentro de um ano, o Cena receberá um novo irradiador, com capacidade para atender quase dez mil toneladas de alimento/ano. Fabricado pela canadense NDS Nordion, uma das companhias mundiais mais respeitadas na área, com mais de 130 irradiadores em mais de 30 países, o irradiador terá um custo de R$2,5 milhões – R$ 2 milhões já financiados pela Fapesp e o restante ainda em negociação. ” Será uma vitrine não só para o consumidor, como para os futuros usuários desse tipo de equipamento. Com isso, poderemos, ao mesmo tempo, orientar o consumidor, transferir tecnologia e treinar mão – de – obra. Um estímulo para colocar em prática o que desenvolvemos há anos.”

Contra o preconceito – Nesse sentido, empresários de diversas regiões do país estão interessados em trabalhar com a irradiação. Em Uberaba (MG), existem projetos para frutas e carnes. No Norte, empresários pretendem irradiar pimenta do reino e frutas nativas. Rio Grande do Sul e Santa Catarina, a procura é , também, para frutas. No Paraná, a intenção é atuar com a turfa, onde se coloca a bactéria para adubação nitrogenada. Quando adquirir escala comercial, dois importantes fatores serão atingidos pela irradiação: entressafra e o hábito de consumo. De um lado, o retardamento do amadurecimento causará certa estabilização no mercado de perecíveis, criando estoques regulados dos produtos de poucas colheitas anuais. De outro, Walder afirma que os consumidores preferirão comprar alimentos radiados que os comuns. Para ele, o preconceito por produtos radiados é uma realidade, mas será facilmente contornável.

Baseado num estado realizado em 1992, nos Estados Unidos, em que a venda de morangos registrou a comercialização de 15 caixas irradiadas para cada normal, diz que campanhas de conscientização e esclarecimento serão suficientes para ressaltar as vantagens dos alimentos irradiados. O processo elimina as micro-organismos, exterminando com a contaminação inicial. No caso da carne, por exemplo, o produto sai do abatedouro com baixo índice de bactérias, mas a reprodução é rápida e, em pouco tempo, o alimento torna – se inviável para o consumo. “Com a irradiação, o produto fica livre de carga microbiana e em condições higiênicas melhores”. O pesquisador ressalta que um dos principais mitos da população é que, depois de irradiado, o alimento torna – se radioativo. Quando se irradia, o cobalto, material básico da irradiação, não toma contato com os alimentos. “É a mesma coisa que ficar exposto ao sol, quando se chega.

Em casa, ninguém encontra – se luminoso. É muito diferente de se misturar o cobalto nos produtos. E aí que está a confusão”. Na dúvida, todos os produtos irradiados serão identificados na embalagem. Uma exigência para sua comercialização no varejo, como forma de deixar o consumidor optar por alimentos irradiados ou não. “O comprador não será enganado, como acontece com as letras miúdas e os códigos químicos, que não esclarecem nada”, finaliza Walder.

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